No rasto do sol

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Cá dentro... de cá de dentro...

Há alturas em que os sorrisos demoram a voltar mas, acredita meu amor, a vida traz sempre papoilas nos braços. É preciso dar tempo ao tempo, deixar passar o vendaval e a torrente de emoções que nos devasta a alma. Pode demorar, mas num dia de muito sol, a paz acaba sempre por chegar. Saram as feridas, arruma-se a casa e, como por magia, a vida volta a sorrir-nos.
“O meu amor ensinou-me a partir numa noite triste/Mas antes ensinou-me a não esquecer que o meu amor existe.”
Aprende-se mesmo a calar a dor, quando ela deixa de nos gritar no peito, como eco do que nos vai alma. E cresce-se. Porque existir é mesmo isto, amar e ser amado, acreditar e tornar a acreditar, renascer tantas vezes quantas as necessárias para voltar ao ponto de partida… a chegada!
Não duvides, a vida encarrega-se de pôr tudo no seu devido lugar. Deve ser por isso que se vai acumulando em fotografias, para que saibamos guardar sempre o melhor.
Dizem que a História é cíclica, porque não conhecem as nossas estórias… lágrimas e sorrisos, sonhos, ilusões e desilusões, idiossincrasias de vidas cheias… de tantas outras histórias e estórias para contar.
Não há dúvida que o melhor do mundo são os afectos, os que guardamos cá dentro e nos tornam todos os dias pessoas melhores… Acredito, mesmo!, que o que levamos da vida é o amor que damos e recebemos uns dos outros. Por isso é que vale a pena continuar a acreditar, sempre e a cada dia, todos os dias, na grandiosidade da alma humana. Vale a pena acreditar nisto, acredita. Eu acredito, sabes!, não sabes?!
Ainda bem que as coisas não acontecem sempre como sonhamos. Joaninha, há coincidências mas, não há acasos. Para o melhor e para o pior, estamos a crescer pequenina. Olho-te enternecida e digo baixinho… “fica bem e não percas nunca a certeza de que o mundo é todo teu!!!”
Os ciganos não gostam de bons começos para os filhos, a sorte e o amor são conquistas, chegam sempre que os ciclos se renovam. E às vezes é mesmo preciso chorar muitas lágrimas, ter o peito em chamas e a alma devastada, para poder receber de braços abertos o amor que a vida tem reservado para nós.
Só damos, realmente, valor ao que temos espelhado na alma. Porque a natureza do ser humano é mesmo esta, aprende experienciando, precisa de sentir o pulso às coisas por dentro… às coisas e às pessoas. O Homem é, mesmo!, um ser em circunstância… e são as circunstâncias que nos tornam pessoas.
Podemos ser todos diferentes, mas há um ponto da narrativa que é comum a todos, a necessidade de estabelecer laços e é ai que nos unimos… porque somos todos iguais.
Amamos na diversidade e através dela… e ainda que isso nos doa às vezes, é esta a piada de existir.
Observo os caminhos por onde a vida nos tem conduzido e atrevo-me a adivinhar um futuro a cores, onde as imagens a preto e branco são como que radiografias dos nossos afectos.
Acredito mesmo que somos os tais, fazemos parte de uma categoria rara de indivíduos que veio ao mundo para fazer história. Somos o paradigma perfeito da existência em clã, aprendemos a conhecer e amar os Outros, os Outros da nossa vida… por isso é que o fim deste livro que há anos escrevemos, tem que ter um final feliz. E, isto não é um conto de fadas, é muito melhor que isso, é o relato de uma história de verdade, com pessoas de carne e osso… que erram, que se enganam mas que, concomitantemente, sabem gostar desmesuradamente.
Meu amor, vamos escrever este final de mãos dadas… aconteça o que acontecer, temos um passado cheio de memórias e um futuro inteiro para construir.