No rasto do sol

quinta-feira, maio 25, 2006

Saudades de menina pequenina


Há dias em que me apetecia não ter crescido e continuar a ser apenas uma garotinha de quatro anos... porque me sinto frágil e pequenina, porque me canso deste mundo de adultos, porque a racionalidade dos afectos e os afectos racionalizados tomam conta de mim, porque a vida já não é sempre simples e leve, porque tenho saudades...
O tempo empresta-nos muitas coisas boas, mas rouba-nos em vida o que nos devolve em memórias e as saudades são o reduto sagrado dos nossos afectos.
Hoje foi um daqueles dias em que me senti muito desprotegida, muito tocada por um mundo de crescidos que ainda não é o meu, falei de coração aberto como se faz aos três anos e meio e senti-me mesmo como se os tivesse.
Descubro que, afinal, ainda sou muito eu... muito menina!
Tive saudades.
Sempre tive saudades, até do que não vivi. Cresci a ter saudades, deve fazer parte do meu plano estrutural básico - quiça do património genético, alguém me deve ter inculcado no espírito a nostalgia do fado português... o certo é que, desde que me entendo por gente, a saudade está sempre presente na minha vida (nuns dias, mais que noutros). Saudades das coisas boas... das pessoas queridas, dos momentos felizes, dos dias bonitos, dos passeios, das estórias, das minhas paixões, dos sorrisos, da minha infância...
De certa forma ainda bem que cresci porque, ao longo destes anos, pude conhecer pessoas muito importantes que -se assim não fosse- talvez nunca tivessem chegado a cruzar o meu caminho.
Hoje, tenho saudades de muita gente que me viu crescer, que me fez crescer e que cresceu comigo. Gostava de te ter conhecido quando éramos ambos pequeninos...

Olho para ti e vejo aquele menino pequenino que brincava comigo nas pocinhas à beira-mar, que me ajudou a descobrir e encontrar os mais valiosos tesouros, que me disse que eu era a menina mais bonita do universo e do mundo inteiro.
Olho para ti e vejo que te conheço desde sempre, mesmo antes de te ter conhecido. Olho para ti e vejo-te a correr pelo jardim, mascarado de Peter Pan, a voar na minha direcção.
Olho para ti e vejo que tenho tantas saudades tuas, que tenho muitas saudades minhas e nossas.
Olho para ti e vejo como tenho saudades de ser só uma menina pequenina...
*

1 Comments:

  • At 6:58 da tarde, Blogger Maria said…

    Como eu te entendo... As saudades daquilo que se viveu e daquilo que não se viveu... Sem importar as razões, porque essas são só nossas, pessoais e intransmissíveis...

    Está quase, quase, a chegar ao fim, e hoje, mais do que nunca, estas tuas palavras fazem todo o sentido do mundo... Hoje também me sinto pequenina e desprotegida...

    Percebes-me??? Eu sei que sim...

    Beijo enorme

     

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