Estórias arrumadas
Arrumo-te hoje. Aqui. Nesta noite amena, em que a noite ilumina o céu estrelado. Arrumo-te no lugar certo dos meus afectos. Devolvo-te ao reduto sagrado a que pertences. Tu. Tu que aprendeste comigo, e através de mim, que a amizade é a mais bela forma de amor. Hoje, realizo que a única possível e viável entre nós. A vida encarrega-se de pôr tudo no seu devido lugar. O seu a seu dono. Não tinha que ser. Tinha que ser assim. Sempre soube. Sempre quis. Não entendo esta sensação de abandono que se apoderou do meu ser, eu que nunca fui tua, não te podia esperar meu. Vou ter saudades tuas. Saudades do que não fomos, nem poderíamos ter sido. Hoje foi, irrevogavelmente, a derradeira vez. Este assunto morre aqui, com o nascer de um novo dia. O despontar da realidade, o raiar da vida real. Voltamos ao que nunca deixámos de ser, duas linhas paralelas. E sou invadida pela inevitabilidade da geometria. Lei e ordem. Duas linhas paralelas (por muito próximas que fiquem, não se tocam, jamais!) nunca se cruzam. A partir deste ponto, em que quase desafiámos as regras da convergência, desenham-se dois caminhos e cada um terá que seguir o seu. Guardo as palavras, silenciosas, da conversa definitiva que não chegámos a ter. Foi melhor assim.
A minha franqueza sempre te desconcertou. E, graças a esta minha necessidade permanente de ordenar o caos, fui racionalizando. A razão tem razões que a razão desconhece. Aprendi a conhecer a razão, independentemente das razões. Arrumo hoje este assunto, esta estória que não chegou a sê-lo, felizmente, sem mágoas que magoem. Num jardim secreto onde não tenciono voltar, onde a tua entrada está indubitavelmente vedada. Foi melhor assim. E, progressivamente, vai regressando tudo à normalidade. Há riscos que não se correm, o preço a pagar seria demasiado elevado. Voltamos a ser nós. Continuo a ser eu, franca e verdadeira. Abandonada ao que sou, acompanhada pelas minhas convicções. Não saberia viver sem ti, pelo que não poderia arriscar viver contigo. Devolve-me o que sou, retribui o sorriso e reduz-me ao que sou... a menina. Sê feliz. A vida traz sempre papoilas nos braços... as minhas ainda estão a florir.
Arrumo tudo direitinho, no lugar apropriado, constato que não há vestígios. Apago a luz. Sigo em frente. O sol está a nascer...
1 Comments:
At 10:30 da tarde, Maria said…
Tu arrumaste aqui... Eu vou arrumar e crescer para outro lugar... Só espero que valha a pena... Beijo grande
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