No rasto do sol

domingo, junho 18, 2006

Construir o futuro

Há alturas em que os sorrisos demoram a voltar mas, acredita meu amor, a vida traz sempre papoilas nos braços. É preciso dar tempo ao tempo, deixar passar o vendaval e a torrente de emoções que nos devasta a alma. Pode demorar, mas num dia de muito sol, a paz acaba sempre por chegar. Saram as feridas, arruma-se a casa e, como por magia, a vida volta a sorrir-nos.
“O meu amor ensinou-me a partir numa noite triste/Mas antes ensinou-me a não esquecer que o meu amor existe.”
Aprende-se mesmo a calar a dor, quando ela deixa de nos gritar no peito, como eco do que nos vai alma. E cresce-se. Porque existir é mesmo isto, amar e ser amado, acreditar e tornar a acreditar, renascer tantas vezes quantas as necessárias para voltar ao ponto de partida… a chegada!
Não duvides, a vida encarrega-se de pôr tudo no seu devido lugar. Deve ser por isso que se vai acumulando em fotografias, para que saibamos guardar sempre o melhor.
Dizem que a História é cíclica, porque não conhecem as nossas estórias… lágrimas e sorrisos, sonhos, ilusões e desilusões, idiossincrasias de vidas cheias… de tantas outras histórias e estórias para contar.
Não há dúvida que o melhor do mundo são os afectos, os que guardamos cá dentro e nos tornam todos os dias pessoas melhores… Acredito, mesmo!, que o que levamos da vida é o amor que damos e recebemos uns dos outros. Por isso é que vale a pena continuar a acreditar, sempre e a cada dia, todos os dias, na grandiosidade da alma humana. Vale a pena acreditar nisto, acredita. Eu acredito, sabes!, não sabes?!
Ainda bem que as coisas não acontecem sempre como sonhamos. Chèri, há coincidências mas, não há acasos. Para o melhor e para o pior, estamos a crescer. Olho-te enternecida e digo baixinho… “fica bem e não percas nunca a certeza de que o mundo é todo teu!!!”
Os ciganos não gostam de bons começos para os filhos, a sorte e o amor são conquistas, chegam sempre que os ciclos se renovam. E às vezes é mesmo preciso chorar muitas lágrimas, ter o peito em chamas e a alma devastada, para poder receber de braços abertos o amor que a vida tem reservado para nós.
Só damos, realmente, valor ao que temos espelhado na alma. Porque a natureza do ser humano é mesmo esta, aprende experienciando, precisa de sentir o pulso às coisas por dentro… às coisas e às pessoas. O Homem é, mesmo!, um ser em circunstância… e são as circunstâncias que nos tornam pessoas.
Podemos ser diferentes, mas há um ponto da narrativa que é comum a todos, a necessidade de estabelecer laços e é ai que nos unimos… porque somos todos iguais.
Amamos na diversidade e através dela… e ainda que isso nos doa, às vezes, é esta a piada de existir.
Observo os caminhos por onde a vida nos tem conduzido e atrevo-me a adivinhar um futuro a cores, onde as imagens a preto e branco são como que radiografias dos nossos afectos.
Acredito mesmo que somos os tais, fazemos parte de uma categoria rara de indivíduos que veio ao mundo para fazer história. Somos o paradigma perfeito da existência em clã, aprendemos a conhecer e amar os Outros, os Outros da nossa vida… por isso é que o fim deste livro que há anos escrevemos, tem que ter um final feliz. E, isto não é um conto de fadas, é muito melhor que isso, é o relato de uma história de verdade, com pessoas de carne e osso… que erram, que se enganam mas que, concomitantemente, sabem gostar desmesuradamente.
Meu amor, vamos escrever este final de mãos dadas… aconteça o que acontecer, temos um passado cheio de memórias e um futuro inteiro para construir.

1 Comments:

  • At 9:53 da tarde, Blogger Maria said…

    Mergulhei nas tuas palavras para me perder nelas. Fechei os olhos, depois de te ler, e fiquei a ver o filme que passava diante de mim. Dizes que “Há alturas em que os sorrisos demoram a voltar”, que é uma questão de tempo. Mas hoje sinto que não sou capaz. Não consigo dar ao tempo o tempo que ele precisa para me voltar a fazer sorrir. Talvez amanhã seja capaz...
    Os afectos são mesmo a melhor coisa do mundo, mas às vezes dói tanto. Hoje passei pelo presente do meu passado e percebi que o passado era mesmo isso, passado e nada mais. Respirei de alívio por breves momentos. Ansiava sentir-me assim há muito tempo. Mais uma vez o tempo que eu não soube dar ao tempo e que acabou por chegar. Mas o alívio foi momentâneo. Mais tarde, já no caminho para casa, recordei o futuro que está perto de se tornar passado e a custo contive uma lágrima, daquelas que queima o rosto e acabam por ferir o coração.
    Quero muito acreditar que no fim do arco-íris existe mesmo um tesouro à minha espera... Mas, mais uma vez, não sei dar ao tempo o tempo de que ele precisa para que o tesouro seja real.

     

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