O valor de um sorriso
As máquinas captam-nos os sorrisos, as fotografias perpetuam os instantes e devolvem-nos o momento. Vi-te através da lente e descobri-te para além desta, só para poder gostar de ti... desfocado pelo flash, revelado pela vida.
O fotógrafo estava cansado de retratar sempre o mesmo modelo, encontrou um novo olhar. Trazia sonhos e sorrisos displicentes, parecia despreocupada, inconsequente, livre, leve e solta. Não tinha passado nem futuro, dançava pela vida ao som do barulho das luzes. Brincava. E falava muito, de tudo, menos dela. Não se mostrava. Dava-se sem se dar. Ria muito, alto, como se cumprimentasse a vida. E sorria para a câmara. Piscava o olho ao fotógrafo.
Ele já se tinha esquecido de como era ser invadido pela vitalidade de quem (ainda) tem dezoito anos. Tentou resguardar-se, atrás da máquina, mas precisou de espreitar para poder ver melhor. Ficou curioso, quis captar-lhe a alma. Arrumou a máquina e foi descobri-la. Através do cheiro, do toque, do calor.
Jogaram. Ela fazia poses e ele fotografava. Ele fotografava e ela fazia poses.
Habituado a escolher o mundo através da lente, objectiva, guardando apenas o que queria, escudava-se na câmara e tentava passar despercebido. Ela fez de conta que ele estava a conseguir. Deixou que a ilusão tomasse conta de ambos. Matou o tempo. Esqueceu um passado que não tinha, congelou a ideia de futuro e delimitou o presente.
E o fotógrafo esqueceu a objectiva. Pegou no modelo e esqueceu (também) o resto. Entre ambos, as palavras pareciam supérfulas. Entendiam-se. Compreendiam-se. Num silêncio cúmplice que, por vezes, até foi falado.
Ele precisava de segurança... a que tinha, escolhida e construída. Mas também precisava do afecto que ela lhe dava, gratuitamente, sem fazer perguntas. Não sabia nada dela mas gostava de a ter no colo, a miúda que (ainda) ria despreocupada, não tinha medo. Envolvia-se sem se dar, dava-se sem se envolver. Deu férias à vida que tinha e depois não soube voltar. Arriscou mantê-la por perto, só para não a perder. Ela cresceu, e voltou. Voltou ao que era, uma miúda crescida, racional, responsável, cerebral... mas continuou a sorrir, para ele, para a máquina, por ele, através dele, para a vida.
Pegou na câmara.
Quanto vale um sorriso? O sorriso da menina dos olhos de alguém...
O fotógrafo estava cansado de retratar sempre o mesmo modelo, encontrou um novo olhar. Trazia sonhos e sorrisos displicentes, parecia despreocupada, inconsequente, livre, leve e solta. Não tinha passado nem futuro, dançava pela vida ao som do barulho das luzes. Brincava. E falava muito, de tudo, menos dela. Não se mostrava. Dava-se sem se dar. Ria muito, alto, como se cumprimentasse a vida. E sorria para a câmara. Piscava o olho ao fotógrafo.
Ele já se tinha esquecido de como era ser invadido pela vitalidade de quem (ainda) tem dezoito anos. Tentou resguardar-se, atrás da máquina, mas precisou de espreitar para poder ver melhor. Ficou curioso, quis captar-lhe a alma. Arrumou a máquina e foi descobri-la. Através do cheiro, do toque, do calor.
Jogaram. Ela fazia poses e ele fotografava. Ele fotografava e ela fazia poses.
Habituado a escolher o mundo através da lente, objectiva, guardando apenas o que queria, escudava-se na câmara e tentava passar despercebido. Ela fez de conta que ele estava a conseguir. Deixou que a ilusão tomasse conta de ambos. Matou o tempo. Esqueceu um passado que não tinha, congelou a ideia de futuro e delimitou o presente.
E o fotógrafo esqueceu a objectiva. Pegou no modelo e esqueceu (também) o resto. Entre ambos, as palavras pareciam supérfulas. Entendiam-se. Compreendiam-se. Num silêncio cúmplice que, por vezes, até foi falado.
Ele precisava de segurança... a que tinha, escolhida e construída. Mas também precisava do afecto que ela lhe dava, gratuitamente, sem fazer perguntas. Não sabia nada dela mas gostava de a ter no colo, a miúda que (ainda) ria despreocupada, não tinha medo. Envolvia-se sem se dar, dava-se sem se envolver. Deu férias à vida que tinha e depois não soube voltar. Arriscou mantê-la por perto, só para não a perder. Ela cresceu, e voltou. Voltou ao que era, uma miúda crescida, racional, responsável, cerebral... mas continuou a sorrir, para ele, para a máquina, por ele, através dele, para a vida.
Pegou na câmara.
Quanto vale um sorriso? O sorriso da menina dos olhos de alguém...
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