No rasto do sol

quinta-feira, junho 16, 2005

Só por gostar

Meu amor...
Esta devia ser uma típica carta de despedida... deveria explicar-te pormenorizadamente as razões da nossa separação e os motivos que estiveram na sua origem. Todavia, nós sempre primámos pela diferença, somos especialistas em virar o mundo ao contrário, desafiando leis e padrões. Por isso mesmo, neste momento, faz todo o sentido escrever-te o meu amor na hora em que te digo adeus.
Não vale a pena esgrimir argumentos que justifiquem que os nossos caminhos se separem... não discorro sobre factos, apenas sobre afectos, sobre os afectos que me afectam.
Apetece-me deixar-te a sorrir...
Para variar, a nossa história começou ao contrário... quando nada parecia bater certo. Envolvemo-nos primeiro e conhecemo-nos depois. O amor nasceu sob a forma de arrebatamento. Houve um eclipse, numa noite qualquer perdida no tempo e no espaço, que juntou a lua e o sol. Desafiou-se, através da comunhão dos nossos corpos, a mais antiga lei da geometria: "duas linhas paralelas nunca se cruzam". Num instante perfeito as linhas paralelas fundiram-se numa só. Deixou de haver dia, deixou de haver noite... houve apenas vida, a vida que nos pulsava no peito e que inundou tudo. Magia. Foi magia... não tem nome, não tem outro nome... as coisas mágicas não podem ser categorizadas. Metáforas. Também este amor nasceu de uma metáfora. Porque, às vezes, acontece deixarmos de ser nós para sermos mais e melhor. União. Comunhão perfeita de corpos e almas.
Não quis encontrar razões, escusei-me a procurar justificações... deixei-me, simples e somente, levar. Embalada em ti, entregue a uma brincadeira que começou do nada, talvez com o pretexto de passarmos ambos bons momentos, sem comprometimento, sem compromissos... e fomos brincando às escondidas, como duas crianças inconsequentes, alheios à dimensão do sentimento que estava a eclodir.
E a estória tomou forma.
Sem nome, sem tempo e sem espaço definido. Um homem que ama uma mulher. Sem futuro. Um amor, o nosso amor. Cantado, narrado, calado. Vivido... só por gostar. Não foi preciso acreditar, não foi necessário categorizar, denominar ou catalogar. O teu sorriso, o meu sorriso, o nosso sorriso juntos sobrepôs-se. Deitada ao teu lado, aninhada no teu peito, protegida pelo teu colo, saí de mim para nos ver. Estava escrito mais um capítulo do livro. "Ele amava-a, velava-lhe o sono... para sempre, até sempre, pala eternidade... enquanto houver caminho".
O amor não tem razões, sequer razão... Gosta-se e pronto! Esta estória quase inverosímil e idiossincrásica, mesmo sendo atípica, aconteceu como todas as outras, fruto do encontro de duas almas que se reconhecem através dos corpos. Amei-te através da forma, com todos os complementos, mesmo sem o verbo. Não há qualquer objectividade nesta narrativa, sequer na história, somos sujeitos subjectivos. Só houve espaço para o afecto porque o jogo nos envolveu e foi tomando conta de nós.
Nós que nos julgávamos tão espertos, situados muito acima das fragilidades do amor, fomos tornados amantes e amados. Sem querer, sem crer. Passámos a fazer parte um do outro, houve complementaridade, houve entrega... houve! E não há nada que diga que estas estórias tenham que ter o clássico 'final feliz' (que, na maior parte das vezes, tem tão pouco de feliz; porque o quotidiano mata as relações... os finais felizes costumam acabar em contas para pagar, idas ao supermercado, aborrecimentos com os filhos, etc.). Nós fizemos o nosso Happy End! Fomos felizes, juntos!, enquanto estivemos juntos. Por isso é que, neste preciso momento, continuo a ter vontade de relatar o nosso amor.
Não ficámos um com o outro mas, resguardaremos esta 'estória de recordações imaculadas', ficarão para sempre os sorrisos e os afectos porque só houve mesmo o lado bom, meu amor!

4 Comments:

  • At 1:40 da manhã, Blogger Zeferino Ferreira said…

    "A beleza ideal está na simplicidade calma e serena"

    Esta é especialmente para ti, se não entenderes um dia destes eu explico.

    Um Grande Beijinho
    do amigo
    Rui

     
  • At 8:22 da tarde, Blogger Maria said…

    O Amor só faz mesmo sentido se for vivido assim, pleno de afecto e entrega... O amor é a linguagem suprema dos afectos... Tem várias formas, mas todas elas necessitam de uma só coisa: reciprocidade... Mais uma vez deixei-me levar pelas tuas palavras... Vi nelas um pouco da minha realidade... Mas desta vez uma realidade em construção... Um sentimento bonito e puro que cresce um pouco a cada dia que passa... Não acredito no "foram felizes para sempre"... Sempre preferi, e continuo a preferir, o "foram felizes enquanto durou"... Porque só assim faz sentido...

    Parabéns minha Linda... É impossível não adorar o que escreves... :-)

    Beijo grande

     
  • At 2:26 da manhã, Blogger Ines said…

    Obrigada, Ruizinho!
    Agora fico à espera da explicação detalhada... é sempre um prazer ouvir-te e conversar contigo.
    Beijinhos.

     
  • At 2:29 da manhã, Blogger Ines said…

    Aninha, minha querida!
    'Seremos cúmplices o resto da vida'... sabes ler-me a alma através do que escrevo! ;)
    Como tu, eu também acredito que 'para sempre é só enquanto dura'!!!

    Obrigada pelos incentivos, pela força e pelo carinho.
    Muitos Beijinhos

     

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