No rasto do sol

segunda-feira, outubro 24, 2005

A urgência do amor

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
(Eugénio de Andrade)
*
Há amores urgentes... têm que ser vividos no instante em que começam a tomar forma, talvez, porque são de consumo rápido e não podem dar-se ao luxo de esperar pelo amadurecimento.
Durante muito tempo julguei que eu é que era urgente na forma de amar. Acreditava ter uma necessidade premente de me entregar aos prazeres da paixão, assim que a começasse a sentir. Depois, através de ti, acabei por perceber que o que varia é mesmo a forma de amar. Até aqui só havia conhecido os tais 'amores urgentes' e, porque só compreendemos o que temos espelhado na alma, acreditava que correspondiam à minha forma de estar. Coleccionei histórias, umas mais fugazes que outras, entreguei-me de corpo e alma (normalmente, muito mais corpo que alma, como é apanágio do género masculino) e experimentei a adrenalina da urgência. Tive várias mulheres, épocas loucas de paixão e evasão, gostei de algumas, envolvi-me com outras tantas e até cheguei a ponderar a hipótese de assentar de vez. Amei e fui amado. Mesmo assim não resultou. Faltou-me sempre qualquer coisa... aquela química perfeita que provoca o tal clique que nos faz mudar o mundo.
Cansei-me de amores urgentes. Uma ou outra noite de luxúria e pouco mais. Sexo, o instinto animal do homem. Não que não me encante pelas mulheres que levo para a cama, pelo contrário, sou o maior amante e apreciador da beleza feminina e, na arte da sedução, acabo sempre por experimentar as sensações de envolvimento que o entendimento teima em conceder. Não obstante, passada a euforia, esgota-se a forma, esgota-se tudo porque não há nada.
E quando não há nada, falta tudo. Falta a amizade, a cumplicidade, o afecto, o desejo, o amor... faltas-me tu. Tu que me ensinaste que a pressa é inimiga da perfeição. Tu, menina morena, que me fizeste amar-te desde o primeiro instante com a serenidade dos afectos que querem permanecer. Tu, o meu maior desafio, a minha luta constante para que queiras ficar comigo. Em ti encontrei a tal estrelinha, a magia de gostar mesmo a sério e não ter pressa... hei-de esperar pela maturidade do teu amor, o tempo que for preciso, até que -como eu- tenhas a certeza que é comigo que queres estar. Uma coisa é certa e inegável, estamos juntos na vida e para a vida... daqui até ao passo seguinte é só uma questão de tempo.
E eu até sei que me amas... o teu problema chama-se medo e enquanto não perceberes que és muito mais do que uma urgência, vais precisar de ganhar confiança para te entregares por completo. Não te esqueças que eu te conheço como ninguém... aprendi a escutar o teu coração e a ler-te a alma. Sou o teu melhor amigo, lembras-te?! Vi-te crescer, ensinei-te a crescer e a perceber as subtilezas do universo masculino, sequei-te as lágrimas, dei-te colo, ri e chorei contigo. E apaixonei-me... pela miúda desajeitada, que fazia desenhos e escrevia umas coisas engraçadas, a menina morena a quem ensinei que um homem também chora.
Agora só quero que te mudes cá para casa, quero sentar-te ao colo e dar-te os mimos todos que mereces, todos os dias, um dia de cada vez... sem pressas. Pressa é tudo o que eu não preciso de ter, tenho a certeza que é isto que quero e o teu lugar vai estar sempre vago, à tua espera. Não é necessário apressar nada, aquilo que tem que ser nosso às nossas mãos vem parar e, não tenho dúvidas que, tu estás-me destinada.
A vida ensinou-me a amar-te e trouxe-me a maturidade necessária para te saber amar... devagarinho e sem pressas, como quem saboreia um gelado, sem apetites sôfregos... todos os dias, o resto da vida... sem pressa de chegar ao fim.
*
Para a S. ... e para todas a minhas amigas que mereciam que esta fosse a história da vida delas, porque o amor absoluto há-de cruzar os nossos destinos (a vida é como uma gruta... recebemos o que damos).

terça-feira, outubro 18, 2005

Afonso


Mais do que todas as palavras possam exprimir, eis a imagem que fala por si, a sublime materialização do que o ser humano tem de melhor.
O meu Afonso... o primeiro filho da segunda geração, o meu sobrinho, que me enche a vida de côr e que me deixa a alma a transbordar!

terça-feira, outubro 11, 2005

Vou ser Tia!!!!!

O dia mais aguardado de sempre chegou... o Afonso vai nascer... vou ser TIAAAAAAAAAAAAAAA!!!
Acho que vou rebentar de felicidade, vai dar-me uma cena má... esta criança promete, sempre disse que nascia entre 9 e 14, 11 foi o meu palpite e cumpriu-se!!!
Entre lágrimas e risos, que o meu sobrinho ao quadrado venha ao mundo numa hora muito especial e que a vida lhe traga tudo de bom.
Aos pais, PARABÉNS e um enorme obrigado pelo privilégio que me concederam!
BEMVINDO SEJAS, AFONSO MARIA, MEU AMOR!

Gostar e deixar de gostar

Tomaste o meu amor como um dado adquirido e deixaste de me ver. Habituaste-te à minha presença e, de um dia para o outro, passaste a não reparar sequer que estava ao teu lado. Não sei como nem porquê, desististe de nós, perdeu-se o encanto, perdeu-se a magia, perdemo-nos um do outro.
Primeiro, não quis ver... fui desculpando todas as tuas atitudes -e o que é pior- a ausência delas. Procurei 'n' justificações, para me auto-convencer de que não se passava nada... cansaço, muito trabalho, preocupações... e, enquanto isso, ias-te afastando cada vez mais de mim. Magoava-me a tua indiferença, tentava contrariá-la com manifestações constantes de afecto que tu ora ignoravas, ora aceitavas mecanicamente. Deixei de te sentir, deixaste de ser espontâneo, abandonaste-me sem nunca saíres de junto de mim. Experimentei a dor de ter saudades de alguém que está perto, agora posso afirmar com propriedade, um dos piores sentimentos do mundo.
Fui ficando triste, cada dia mais, sobretudo quando estava contigo e te sentia cada vez mais distante. Ganhei coragem e confrontei-te. Perguntei claramente o que se passava... de forma evasiva e ausente, respondeste-me que não se passava nada, trabalho, cansaço e preocupações. Era de esperar, já não estavas ali há muito tempo.
Entrámos nisto juntos, remámos a dois até determinada altura, mas depois fui só eu a arcar com o peso da embarcação. Até que fiquei cansada, esgotada, derrotada. As relações só podem resultar se forem produto de um investimento a dois. E eu não sou um dado adquirido, sou uma pessoa que precisa de se sentir amada, querida, desejada e admirada.
O que não te perdoo não foi teres deixado de gostar de mim, foi não teres tido a honestidade de mo dizer. A única coisa que sempre esperei de ti, mais do que amor, foi sinceridade. Merecia mais consideração da tua parte, nem que fosse em nome de tudo o que vivemos. Um relação só vale a pena enquanto interessa a ambas as partes. Se já não me querias podias ter-mo dito logo, ter-me-ias poupado tanto sofrimento e tanta dor. Escusavas de ter minado o que havia de melhor em mim... mataste o meu amor, aos bocadinhos, com o silêncio da tua indiferença.
À medida que ia tentando salvar o que ainda restava da nossa história e todas as minhas investidas se revelavam infrutíferas, ia morrendo o que restava do meu amor-próprio. Sofri em silêncio demasiado tempo e, a única coisa que consegui foi adiar o inevitável, dei espaço à mágoa para que se instalasse. Fui profundamente estúpida, falhei redondamente como mulher e como pessoa. Falhei perante os meus pais que sempre me deram todo o amor.
Tinha a obrigação de ter dito 'basta!' no primeiro momento em que percebi que havias deixado de me saber amar. Devia isso a mim mesma. Só que amar alguém é dar-lhe poderes sobre nós... e deixar de ter defesas. Amei-te demais, tu tornaste-te demasiado poderoso e eu estupidamente frágil.
Fiquei com o coração dilacerado mas mandei-te embora... Gostar só não chega!
O Salvador vai passar este fim-de-semana contigo...
Para ele também foi melhor assim. As crianças têm uma sensibilidade enorme para estas coisas, percebem lindamente o que se passa...
Prefiro que o meu filho cresça com um pai e uma mãe separados mas felizes e equilibrados, do que tenha os pais juntos a viver num clima de paz podre, numa casa em que o amor já acabou há muito tempo e o casamento se mantém mais por hábito do que por convicção.

"Quando te perdi, perdemos você e eu, eu porque perdi quem mais amava, você porque perdeu quem mais te amou, mas de nós dois você perdeu mais, porque eu posso amar alguém como te amei, mas você não será assim amado jamais!"

Crescida

Passaram uns anos... já não sou a mesma, se me visses agora nem me reconhecias...
Daquela miúda conservo pouco mais que o sorriso, ou melhor, a forma de sorrir; porque o martírio do aparelho de ortodôncia, serviu para me corrigir os dentes que a chucha entortou.
Estou tão mais crescida... hoje, quando me cruzei contigo, é que percebi o quão. E tive saudades tuas, saudades do que representas, saudades do que fui.
A paixão assolapada que eu tive por ti... coisas de miúda. A história de um amor impossível, que fui alimentando durante grande parte da minha adolescência, nunca precisei de ta contar... sempre soubeste, tinha escrito na testa.
Os vários anos que nos separam permitiram-te achar-me piada, num lugar mais ou menos confortável...
Agora olho para trás e 'tropeço de ternura por ti', afinal, também tu eras um miúdo... eu é que te via grande, muito grande, demasiado crescido para estares comigo e suficientemente grande para gostar tanto de ti.
A vida afastou-nos, hoje não passamos de dois estranhos que partilham memórias de um passado perdido, algures, entre a magia da costa alentejana e o bulício desta grande cidade.
Mas tu não deixas de ser tu, património sagrado das minhas melhores recordações... naquela altura o mundo era um lugar mágico, tu eras o príncipe que ia esperar que eu crescesse para casar comigo, acreditava em qualquer coisa muito parecida com um conto de fadas e tu foste o escolhido para fazer parte desse universo encantado.
É óbvio que, a esta distância, só me posso rir daquela menina que só queria ser crescida depressa para poder viver no mundo dos adultos. A mesma que tinha a cabecinha cheia de fantasias que só são permitidas aos infantes.
Achava-te o máximo, adorava andar pendurada em ti para todo o lado, tratavas-me de igual para igual e olhavas-me com um misto de carinho e admiração... O que é que, naquela idade, eu podia querer mais?!
Foi amor à primeira vista... lembro-me de ter dito à minha mãe que um dia havia de casar contigo... tolices de garota sonhadora. Fiz planos, enchi páginas e páginas de diários com as mais diversas divagações e fui crescendo com este amor, através dele, o meu primeiro amor.
Depois de umas quantas aproximações perigosas, fomos perdendo o contacto até que, deixámos de nos ver. Esporadicamente, fui tendo notícias tuas... tropeçava em ti sem nunca te encontrar, caprichos do destino.
Confesso que, algumas vezes, me passou pela cabeça 'ir à tua procura'... sobretudo, quando os homens de quem gostava me magoavam... mas acabei sempre por nunca o fazer. Talvez tenha sido o medo, agora que me tornei numa pessoa crescida, não quis destruir a ilusão que levei tanto tempo a construir.
Para mim, foste o melhor homem do mundo, nunca me magoaste e fazias-me feliz... era tudo tão simples, tão pueril.
Cresci, mas tu ficaste sempre presente... presente através da ideia que edifiquei de amor, através de ti... cresci e, inconscientemente, mantive a convicção de que um homem para merecer o meu amor tinha que ser como tu... tu como termo de comparação, a inevitável comparação.
Aquilo em que me tornei tem muito do que fui através do que esta estória fez de mim... e ainda bem! Influenciaste, para sempre, a minha forma de ver e viver o amor.
Estou muito mais crescida, é verdade!, mas continuo a ser eu... porque a essência das pessoas não muda e todos temos um plano estrutural básico. Por isso, olhei para ti e percebi que -mesmo BEM mais crescido- continuas a ser o mesmo, continuas a ser tu.
Havemos de ser sempre nós... "mesmo que a vida mude os nossos sentidos e o mundo nos leve pra longe de nós"... Lembras-te?!
Nunca percebi o que te trouxe... deve ter sido por isso que aceitei que te tivesses ido embora, assim, de um dia para o outro e sem dizer nada. E entretanto, cresci, arrumei esta história... a vida foi aconteceu e pronto. Tive outros amores, apaixonei-me, fui feliz, chorei... e às vezes lembrava-me de um dia ter gostado muito de ti.
Hoje tropecei na tua presença, por acaso, calhou... vi-te, sem estar contigo. Vi-te, vi-te com aquela menina recém-nascida e fiquei completamente embevecida... vieram-me à memória as vezes todas que sonhei ver-te com um filho meu nos braços. Ainda bem que os sonhos não envelhecem... no dia em que for mãe, vou lembrar-me de ti porque hei-de ter ao meu lado um homem que -como tu foste, como tu me ensinaste, como tu- seja digno de todo o meu amor.

domingo, outubro 09, 2005

Worl Press Photo, o poder da imagem


"(...) A fotografia abunda em ambiguidades e cada imagem é uma viagem ao desconhecido. O quê, onde, quando, quem? E logo, obviamente, porquê? A resposta não está nas próprias fotografias: estas servem apenas como catalizadores que despertam a nossa atenção e a nossa consciência. (...)"
A exposição deste ano da World Press Photo, patente no CCB, prima mais uma vez pelo brilhantismo a que já nos habitou.
Na era da imagem, como veículo primordial da comunicação, o fotojornalismo assume-se em toda a sua plenitude.
'Uma imagem vale mais do que mil palavras'... parece um contra-senso, mas a verdade é que as imagens são univesais, falam por si, dispensam tradutor... independentemente da língua em que o ser humano se expresse, rostos de alegria, esgares de dor, retratos de violência, são expressões de vida nas quais todos nos reconhecemos sem precisar de legendas.
"A câmara não necessita ser um recurso mecânico. Como a pena, é tão boa como a pessoa que a utiliza. Pode ser o prolongamento da mente e do coração". ( John Steinbeck)
Sou completamente apaixonada por fotografia, pelo poder que nos confere... a possibilidade de captar o instantante, a hipótese de perpetuar o momento, a arte de revelar o mundo, instrumento de denúncia... A realidade nua e crua.
Naturalmente, esta exposição assenta na diversidade temática; pelo que, ao longo do corredor e nas diversas salas, se experimentam diferentes sensações, reacções e estados de alma.
Houve variás fotografias que me marcaram, umas pela violência, outras pela ternura... havendo sempre um denominador comum: o espanto.
Destaquei esta fotografia do "Clean Monday", por ter sido atingida pelo poder deste sorriso, pela força deste abraço... foi 'amor à primeira vista'.
Depois, o retrato do horror... sem palavras que o definam, um olhar que diz tudo... um rosto marcado pela dor de lágrimas silenciosas.

Alice


Nota de intenções
Interessava-me na história de "Alice" explorar sobretudo a obsessão. Alguém que perde uma filha e que, sentido-se impotente para agir, cria um sistema paralelo de funcionamento, exterior à sociedade em que vive. Quando, à noite de regresso a casa, vemos os vídeos de Mário e toda aquela multidão anónima, em movimento continuo, já não sabemos se aquelas imagens são reais se apenas existem na cabeça de Mário.Um rosto igual a outro rosto, uma rua igual a outra rua, um dia igual a outro dia. A cidade como local de abstracção onde, alguém como Mário, pode estar profundamente isolado. Na procura de Alice, Mário conhece outras personagens, também elas, de alguma forma, sozinhas também elas isoladas na cidade onde vivem."Alice" é sobretudo um filme sobre a ausência. Uma história de amor de um pai por uma filha.
Marco Martins

Sinopse
Passaram 193 dias desde que Alice foi vista pela última vez.Todos os dias Mário, o seu pai, sai de casa e repete o mesmo percurso que fez no dia em que Alice desapareceu.A obsessão de a encontrar leva-o a instalar uma série de câmaras de vídeo que registam o movimento das ruas. No meio de todos aqueles rostos, daquela multidão anónima, Mário procura uma pista, uma ajuda, um sinal...A dor brutal causada pela ausência de Alice transformou Mário numa pessoa diferente mas essa procura obstinada e trágica, é talvez a única forma que ele tem para continuar a acreditar que um dia Alice vai aparecer.

Alice!

Démos as mãos e fomos os dois à procura da Alice. Perturbador. Tão perturbador que se não fosse o calor do teu corpo, o aconchego do teu peito, presumo que não teria sido capaz de distinguir ficção e realidade. O teu papel na minha vida, por vezes, é mesmo esse... ajudar-me a fazer a distrinça entre dois mundos.

Procurei a Alice, contigo, através de ti. E encontrei-me naquela menina que nunca chegou a aparecer. Revi-me naqueles caracóis, no casaco azul e nos pombinhos da Praça da Figueira. Lembrei-me do piolhito a correr no meio dos bichos e a saltar nas pocinhas deixadas pela chuva.

Senti o medo, a angústia, um fio de dor, que não sendo minha, tomou conta de mim. Aterrador. Precisei do teu abraço para me sentir outra vez segura. A Alice não voltou, regressei a casa abandonada por essa perda e tive que acordar a minha criança para me certificar que estava bem, protegida por mim.

O limiar da loucura que passou diante dos nossos olhos, incomodou-me. O desespero e a perda do norte numa cidade cinzenta e demasiado grande para não nos desencontrarmos. Tive medo de um dia deixar de te ver, de te sentir... percebi que podia experimentar aquele desequilíbrio, aquele vazio, aquele desespero...

Já não há palavras... o diálogo é mudo... a música é sublime, Bernardo Sassetti... o amor é sempre imenso, intenso, inesquecível, intemporal...

Hoje gosto... amanhã ainda vou gostar mais!

Perdi-me em mais um cigarro para me (re)encontrar nas palavras. Ideias soltas que me fogem e que procuro resgatar a todo o custo.
Invade-me o sossego da madrugada, contrastante com o turbilhão interior que me rouba quietude.
Algures... as inúmeras histórias que cruzam a minha e... a estória sempre presente.
Não sou eu... já não sou só eu... é o que fizeste de mim... é aquilo de que sou feita.
O poder da imagem... uma vila secular povoada de mística, repleta de afectos, a humidade incessante, o sol que derrete o gelo e aquece a alma.
Um eclipse. A vertigem da velocidade... cigarros que demoram a arder... vidas que se consomem... o que nos consome por dentro.
Estradas que se atravessam... um mar de gente. O vazio. A entrega. O medo. O amor a tentar vencer a vida. O amor a tentar conquistar o resta da vida.
A verdade. O poder das memórias. A luz e o brilho, o teu sorriso, o meu sorriso. A magia da noite na alma (e na obra) dos poetas. A noite a ver nascer o dia. Uma promessa de vida a querer vencer a morte.
A música... o embalo das palavras que não se podem perder... a sonoridade dos afectos... a nossa identidade.
A estória escrita através da história... um acaso que o acaso nos concedeu. A descoberta do outro. A razão das razões... o mais sublime dos amores... deixarmos de ser dois seres avulso para passarmos a ser nós. Eu e tu.
Hoje gosto, amanhã vou gostar ainda mais.

Deixas em mim tanto de ti
(Pedro Abrunhosa / Pedro Abrunhosa)
A noite não tem braços
Que te impeçam de partir,
Nas sombras do meu quarto
Há mil sonhos por cumprir.

Não sei quanto tempo fomos,
Nem sei se te trago em mim,
Sei do vento onde te invento, assim.
Não sei se é luz da manhã,
Nem sei o que resta em nós,
Sei das ruas que corremos sós.

Porque tu,
Deixas em mim
Tanto de ti,
Matam-me os dias,
As mãos vazias de ti.

A estrada ainda é longa,
Cem quilómetros de chão,
Quando a espera não tem fim,
Há distâncias sem perdão.

Não sei quanto tempo fomos,
Nem sei se te trago em mim,
Sei do vento onde te invento, assim.
Não sei se é luz da manhã,
Nem sei o que resta em nós,
Sei das ruas que corremos sós.

Porque tu,
Deixas em mim
Tanto de ti,
Matam-me os dias,
As mãos vazias de ti.

Navegas escondida,
Perdes nas mãos o meu corpo,
Beijas-me um sopro de vida,
Como um barco abraça o porto.

Porque tu,
Deixas em mim
Tanto de ti,
Matam-me os dias,
As mãos vazias de ti.

(Se tivesse banda sonora, a música seria esta... descoberta a posteriori, encaixa perfeitamente na história desta história... faz parte da estória...)

sexta-feira, outubro 07, 2005

Amar Demais

A minha Rita, que é uma artista na verdadeira acepção da palavra, escreveu um extraordinário livro de afectos... "AMAR DEMAIS", um encontro sublime de palavras e afectos, a conjugação perfeita do verbo amar.
RITA MATOS... esta mulher é fantástica, uma guerreira que luta com armas preciosas: talento, sonho, sensibilidade e humildade.
Vale muito a pena ler estas 'estórias', desfrutar deste presente e partilhar a magia destas palavras.
Vem aí o Natal... haverá melhor presente que uma declaração de amor?! Amar Demais... porque Amar é Demais!

"De: Alguém que apesar de não ter experimentado todas estas formas de amor, as acompanhou de algum modo, encarnando aqui diferentes personagens, sentindo por cada uma delas.

Para: Todos os que amaram, amam ou vão amar um dia.

O amor não tem explicação, nem este livro pretende apresentá-la. Procura, sim, por palavras que todos conhecem e situações por que muitos passaram, lembrar que o amor pode não ter a forma que desejamos ou escolhemos. Nem sempre encontra, no seu objecto, aquilo que sonhou. Mas, muitas vezes, é também mais do que esperámos, do que procurámos, do que fizemos. Em qualquer dos casos, por mais difícil que seja suportá-lo e por mais sublime que seja vivê-lo, amar é demais.

RITA MATOS"

Obrigada, Ritinha, sobretudo por existires!!!

terça-feira, outubro 04, 2005

Amores imperfeitos, porque a vida não chega... porque a vida não chega, amores imperfeitos...

Dois lírios sobre a mesa
Uma janela aberta sobre o mar
Trago em mim uma certeza
De quem espera pelo teu voltar
Um cheirinho a café
Fotografias caídas pelo chão
E no ar uma canção
Traz-me uma recordação
Tenho um poema escrito
Guardado num lugar perto do mar
Tenho o olhar no infinito
E suspiro devagar
O tempo aqui parou
Desde que te foste embora
Só a saudade ficou
Já não aguento tanta demora
Tenho tanto por dizer
Tanto por te contar
Que a vida não chega
Tenho o céu e tenho o mar
E tanto para te dar
Que a vida não chega
Tenho tanto por dizer
Tanto por te contar
Que a vida não chega
Tenho o céu e tenho o mar
E sei que vou te amar
Para a eternidade…
(Viviane)
Que a vida chegue apenas para amar a perfeição de um amor imperfeito... Que o livro possa ser escrito a quatro mãos e que os capítulos contenham a soma do par perfeito... Que haja um mar de certezas no olhar e uma única verdade no coração...
Que o amor seja forte e puro como o café... Que as fotografias eternizem os sorrisos e os afectos... Que as canções embalem os abraços e tragam boas recordações... Que a música seja nossa... Que a dança seja sublime... Que o movimento dos corpos acompanhe o voo das almas...
Que se escrevam sempre cartas de amor, só pelo simples prazer de as escrever... Que se leiam cartas de amor... Que o amor possa ir cabendo em cada carta... Que haja sempre um mar de emoções a preencher a vida inteira... Que os olhares sejam sempre demorados, os olhares de quem vê, os olhares de quem quer (re)descobrir... Que os dias sejam suspiros de sintonia...
Que nunca haja espaço para saudades enquanto se estiver perto... Que as saudades sejam boas... Que haja sempre um reencontro... que a demora seja apenas um breve instante...
Que não fique nada por dizer... Que não fique nada por contar... Que haja sempre espaço para a partilha... Que a confissão seja um exercício de cumplicidade... Que a entrega seja um acto de espontaneidade... Que haja sempre céu e mar... um horizonte de afectos que desafiem a eternidade... Que o amor seja eterno enquanto dure...
Ainda que a vida possa não chegar... Que o amor chegue e irrompa pela vida...